Sobre a Osteopatia

“Sobre a lesão: Encontre-a. Corrija-a e deixe o corpo agir.” – A. T. Still

Definição

Osteopatia é um método diagnóstico e terapêutica que utiliza do contato manual para estes fins. Diz respeito à relação de corpo, mente e espírito na saúde e na doença, enfatizando a integridade estrutural e funcional do corpo e a tendência intrínseca do corpo de direcionar-se a própria cura (OMS, 2010).

 

Breve histórico

A Osteopatia é uma abordagem da saúde desenvolvida pelo médico Andrew Taylor Still, em 1874, nos Estados Unidos. Com uma filosofia própria, possui métodos de avaliação e diagnóstico centrados na individualidade do paciente e na inter-relação de seus tecidos e de seus sistemas corporais, bem como na interação destes com o meio.

Sua metodologia é baseada no conhecimento aprofundado da anatomia, fisiologia e patologia do corpo humano, o que permite ao Osteopata identificar e tratar disfunções de mobilidade dos tecidos corporais (articulações, ligamentos, músculos, nervos, vasos, vísceras, membranas, entre outros).

Do ponto de vista osteopático, a alteração de mobilidade tecidual participa do comprometimento da função não só do tecido disfuncional, mas também de todo o organismo que com ele interage.

Tanto a avaliação como o tratamento osteopático são realizados com técnicas manuais específicas, elegidas pelo osteopata e voltadas para cada tipo de tecido, sistema, patologia e paciente, tornando-se desta forma um tratamento único e individualizado, assim como o Ser Humano.

Embora, pedagogicamente, a Osteopatia seja dividida em musculoesquelética, visceral e craniana;  é importante reforçar que esta divisão é estritamente didática e que a verdadeira Osteopatia é aquela que respeita o princípio da Unidade do Corpo, onde todos os componentes da estrutura (articulações, músculos, fáscias, vísceras, sistema nervoso…) interagem e que a função ótima depende da interação completa, ampla, contínua e recíproca, em busca de homeostasia.

 

Critérios de Formação em Osteopatia

A AOB, pautada nas normas internacionais (OMS, OSEAN, OIA, UNE) e nacionais (Coffito), elaborou, via comissão de ensino, em parceria com o Coffito, o currículo mínimo para formação do profissional especialista em Osteopatia e o currículo básico de referencia.

A diretoria da AOB – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE OSTEOPATAS DO BRASIL, entidade reconhecida pelo CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

Considerando:

1) as disposições do benchmark da ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAUDE – OMS, no que dispõe sobre a formação do profissional em Osteopatia.

2) a Resolução COFFITO 220, de 23 de maio de 2001.

3) a Resolução COFFITO 398, de 03 de agosto de 2011.

4) que a filosofia e abordagem osteopática é distinta de outras escolas de saúde e que o entendimento destas é imprescindível para boa pratica profissional; que o tratamento manipulativo osteopático (TMO) é componente distintivo da Osteopatia. Que este exige habilidades sensoriais motoras, cognitivas, conhecimento e que o desenvolvimento destas habilidades teóricas, clínicas e manuais exigem tempo e prática.

Resolve:

Art. 1º: – Que os cursos de formação em Osteopatia (especialização profissional) devem cumprir e comprovar uma carga horária mínima de 1000 (mil) horas de aulas presenciais teórico-práticas e, no mínimo, 500 (quinhentas) horas de atividades práticas supervisionadas; sendo que estas devem ser integralizadas em um tempo mínimo de 4 anos (44 meses). *

Parágrafo Único – Para que os títulos tenham validade perante a AOB – ASSOCIAÇÃO DE OSTEOPATAS DO BRASIL, as instituições concedentes deverão remeter os seus projetos pedagógicos à análise e à deliberação do Plenário da AOB.

*Visando não prejudicar profissionais que já atuam na área desde 2016, a AOB está adequando os critérios de especialização em Osteopatia de maneira progressiva. Essa progressão foi apresentada ao Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, em reunião com os diretores da Comissão de Ensino da AOB, e seguindo o mais alto padrão de ensino preconizado pela OMS, aceito como diretriz. Por isso, no até o final do ano de 2019 os critérios eram: Cursos com carga horária de 900h ou mais; Formação concluída e com um único certificado; Horas de prática supervisionada mínima de 400h; Experiência profissional também contará pontos, porém só é considerada após o término da formação. E, a partir de 2020, passaram a valer os critérios internacionais supracitados.

Art. 2º: – O membro do corpo docente de curso reconhecido pela AOB deverá ser especialista reconhecido por esta entidade, quando Fisioterapeuta e natural desta república. Quando professor convidado internacional deve apresentar titulo de D.O. (Doctor of Osteopathy) ou validado por entidade regulamentadora reconhecida legalmente no país de origem.

Art. 3º: – Somente depois de efetuado o registro como especialista, poderá o Fisioterapeuta se anunciar como especialista em Osteopatia, pelos meios eticamente permitidos.

Art. 4º: – Os casos omissos serão deliberados pela diretoria da AOB.

Art. 5º: – Que o currículo básico de referencia deve obedecer aos critérios que se seguem e que disciplinas e conteúdos que não fazem parte deste não poderão ser computados para totalização da carga mínima de formação. Feita exceção daquelas disciplinas não contempladas nesta resolução  que forem aprovadas, após deliberação, pela maioria dos membros diretores desta associação:

Modelos de saúde e doença;

Ética e deontologia (aplicada à Osteopatia);

Fisiologia, patologia básica e patofisiologia do sistema esquelético (esqueleto axial, esqueleto apendicular e cíngulos dos membros superiores e membros inferiores), sistema articular (sistema muscular (incluindo fáscias), sistema nervoso (sistema nervoso central, sistema nervoso periférico e divisão autonômica do sistema nervoso), sistema circulatório (sistema sanguíneo [artérias, veias e capilares]; sistema linfático [capilares linfáticos, vasos linfáticos e troncos linfáticos e órgãos linfóides como: timo, linfonodos e tonsilas e órgãos hemopoiéticos]), sistema respiratório, sistema digestório, sistema genital masculino, sistema genital feminino, sistema endócrino, sistema tegumentar e sistema sensorial.

Diagnóstico ortopédico básico;

Imaginologia;

Anatomia funcional (geral e dos sistemas), inclusive embriologia básica, neuroanatomia e a anatomia visceral;

Bioquímica fundamental, fisiologia celular fundamental;

Fisiologia com ênfase especial na rede imune neuroendócrina, o sistema nervoso anatômico, arterial, linfático, sistemas venosos e o sistema musculoesquelético;

Biomecânica (anatomia funcional, cinemática, fisiologia articular e cinesiologia);

Desenvolvimento de habilidades teóricas e clinicas;

Filosofia e histórico da Osteopatia;

Modelos de Osteopatia para inter-relações estrutura/função;

Bases fisiológicas da Osteopatia (disfunção somática, facilitação medular, hipomobilidade x hipermobilidade, adaptação, compensação);

Posturologia (bases e princípios aplicados à Osteopatia);

Mecanismos de ação e fisiologias das técnicas osteopáticas; anamnese, exame físico e clinico;

Disfunções somáticas do sistema locomotor;

Disfunções somáticas viscerais (sistema digestório, sistema reprodutor, sistema cardiovascular e sistema respiratório);

Disfunções somáticas cranianas (articulações cranianas, suturas, membranas, sistema craniossacral, sistema de fluidos e nervos);

Diagnóstico osteopático (musculoesquelético, postural, visceral, craniano, fascial, neurovegetativo e craniossacral);

Diagnostico diferencial dos sistemas nervoso, locomotor, cardiovascular, pulmonar, digestório, endócrino, imunológico, reprodutor e sensorial;

Solução de problemas clínicos e raciocínio/argumentação;

Entendimento de pesquisa pertinente e sua integração na prática; registro e documentação clínica;

Desenvolvimento das habilidades osteopáticas:

Diagnóstico osteopático;

Técnicas osteopáticas, inclusive técnicas diretas, tais como impulso (diretas, semidiretas e indiretas), articulatórias, energia muscular e stretching;

Técnicas indiretas, inclusive técnicas funcionais; counterstrain, técnica de Still point;

Técnicas de equilíbrio, tais como, equilíbrio das tensões ligamentares e bombeio;

Técnicas miofasciais (liberação, relaxamento, indução, creeping) e técnica de Still point;

Técnicas osteopáticas no campo craniano (técnicas diretas e indiretas; tais como thurst, Sutherland, articulatórias, counterstrain, funcionais indiretas, v-spread);

Técnicas osteopáticas no campo visceral (técnicas diretas e indiretas; como técnicas por alavancas, lifts, bombeios, inibições, Still point, fáscias);

Técnicas osteopáticas no campo dos nervos cranianos (manipulação);

Técnicas osteopáticas no campo dos nervos periféricos (manipulação);

Técnicas osteopáticas no campo da divisão autonômica do sistema nervoso;

Técnicas no campo craniossacral;

Técnicas baseadas no reflexo, tais como reflexos de Chapman, Bennet, Dickie, pontos gatilhos e técnicas neuromusculares;

Técnicas no campo dos fluidos, tais como técnicas de bombeio linfático e de manipulação arterial.

 

Pratica profissional supervisionada

A prática clínica supervisionada é componente essencial do treinamento dos profissionais Fisioterapeutas especialistas em Osteopatia e deve realizar-se em um ambiente clínico osteopático apropriado, sendo os alunos supervisionados por profissional especialista devidamente registrado nesta associação, de modo que o suporte clínico de alta qualidade e ensinamento possam ser administrados. As atividades práticas devem ser desenvolvidas contemplando as habilidades teóricas, clinicas e osteopáticas descritas acima no currículo mínimo.

 

Filosofia Osteopática

Osteopatia reconhece que os sinais e sintomas clínicos de cada paciente são as consequências da interação de múltiplos fatores físicos e não apenas de uma única causa.

Os cuidados osteopáticos incorporam uma ampla gama de abordagens para a manutenção da saúde e do tratamento da doença. A aplicação prática da filosofia osteopática é descrita por vários modelos de relações estrutura-função que são usados por profissionais para a obtenção de informações de diagnóstico e a interpretação do impacto da alteração neuromusculoesquelética na saúde geral do paciente.

Ela abraça o conceito da unidade da estrutura do indivíduo (anatomia) e função (fisiologia). A Osteopatia é uma abordagem centrada na pessoa e nos cuidados de saúde, em vez de centrada na doença.

Os quatro princípios fundamentais da Osteopatia propostos pelo Dr. Andrew Taylor Still são:

1 – Estrutura e função estão inter relacionadas em todos os niveis: com isso o Dr. Still queria dizer que qualquer tecido ou sistema corporal só pode ser saudável se a estrutura e a função estiverem em harmonia e que se houver algum desequilíbrio, cedo ou tarde, isso se transformará em uma dor, sintoma ou patologia.

2- A unidade do corpo: naquela época o Dr. Still já percebeu que tudo no corpo está interligado e interagindo, que cada osso, víscera ou músculo que esteja com alguma alteração vai gerar repercussões em vários outros tecidos e sistemas, pois o corpo é um só.

3- A autocura: outra percepção sobre o funcionamento do corpo que o Dr. Still incorporou em seus tratamentos é a de que o nosso organismo tem a capacidade de autocura, que em termos técnicos chamaríamos de busca pela homeostase e controle da alostase. Desde o ponto de vista osteopático, o que o terapeuta precisa fazer é encontrar o que esta impedindo que o corpo realize a homeostase. Em geral são restrições articulares, musculares, fasciais ou mesmo viscerais que podem ser ajustadas com uma abordagem manual.

4- A lei da artéria: O Dr. Still dizia que qualquer tecido só pode funcionar adequadamente se estiver bem vascularizado. Por isso, dentro do pensamento osteopático é importante eliminar qualquer alteração da vascularização que ocorra por compressões, estiramentos ou por alterações do sistema nervoso autônomo.

 

Ciência Osteopática

No ano 1872, o Dr. Andrew Taylor Still, um médico de fronteira do meio oeste americano, com diversas experiências duras e negativas, frustrado com a medicina realizada na época, começa a pensar em uma nova forma de abordar e tratar a saúde das pessoas. Nessa época, várias conexões foram feitas na sua cabeça para dar forma ao que viria a se tornar a Osteopatia. Como exatamente essas inspirações foram parar na sua cabeça? Ninguém de nós nunca saberá, existem algumas poucas fontes históricas e muitas especulações.

O Dr. Still chegou a admitir que no início da sua carreira não pensava na Osteopatia como uma ciência a ser estudada pelo mundo. Uma escola com essa nova filosofia era o menor dos seus pensamentos. Geralmente essas reformas aparecem de forma inconsciente.

Um homem importante na história da Osteopatia, e quase sempre esquecido, que o ajudou a levar a Osteopatia para o patamar do ensino e da ciência, foi o médico britânico Willian Smith. Em troca de ensinar anatomia aos filhos do Dr. Still, Dr. Willian Smith teve a oportunidade de aprender diretamente com Still vários dos seus ensinamentos mais avançados sobre a Osteopatia.

Após isso, Still foi persuadido a montar o que seria a Academia Americana de Osteopatia (ASO), atualmente Andrew Taylor Still University (ATSU). Primeira escola de Osteopatia, agora com um currículo completo, com todas as bases necessárias para uma formação de mais alto nível em saúde, integrando estudos de fisiologia, histologia, bioquímica e demais disciplinas necessárias.

Com o tempo, os estados americanos foram aceitando a Osteopatia, sendo que o primeiro estado americano foi o New England State of Vermont. Em seguida Missouri, Dakota e Iowa. Outras escolas de Osteopatia começaram a surgir até que se formou a Associação de Colégios de Osteopatia. Numa tentativa de se uniformizar os currículos, em seguida foi montada a Associação Americana de Avanços em Osteopatia, que é o primeiro passo para a formação da ciência osteopática.

O primeiro periódico em Osteopatia que temos notícia, e que é um dos mais famosos até hoje, é o Journal of American Osteopathic Association (JAOA) que teve a sua primeira edição no ano de 1901.

A Osteopatia não deve ser confundida com algo místico e nem sobrenatural. Ela está pautada no estudo exaustivo da anatomia, da fisiologia e biomecânica. Mesmo assim, por ser uma ciência jovem, ainda está evoluindo nos trabalhos científicos que comprovem os seus resultados clínicos.  Incentivamos a busca de evidência no trabalho de cada osteopata no mundo, de forma que mais pessoas possam se beneficiar de uma Osteopatia científica, sem uma concepção fragmentada, mas sim com uma visão integral do ser humano.

 

Clínica Osteopática

Comprometer a integridade estrutural e funcional tem uma influência recíproca sobre a fisiologia. O tratamento osteopático de disfunção somática modifica limites e padrões no sistema nervoso, que por sua vez permite um movimento em direção a um nível de função mais perto do ideal para a pessoa naquele momento em sua vida.

A Osteopatia não está limitada ao diagnóstico e tratamento de problemas musculoesqueléticos, nem em enfatizar o alinhamento com evidências radiográficas, e sim  preocupada com a maneira com que a dinâmica dos tecidos articulares, fasciais, vasculares e nervosos se integram e como ela pode modular toda a fisiologia do corpo.

O papel do Fisioterapeuta Especialista em Osteopatia reside em diagnosticar e tratar os fatores que limitam e inibem a saúde. Sendo assim, lançam mão de técnicas não invasivas, naturais e manuais (OMT- Osteopathic Manipulative Treatment), que visam:

Normalizar a mobilidade e funcionalidade articular;

Normalizar a mobilidade e funcionalidade fascial;

Normalizar a dinâmica e funcionalidade do crânio, dura mater e suas conexões periféricas;

Normalizar a dinâmica e funcionalidade visceral;

Normalizar a circulação arterial, venosa e linfática;

Normalizar a função nervosa, corrigindo disfunções somáticas, que perturbem seu funcionamento e assim gerando efeitos como a facilitação medular;

Identificar fatores na dieta, exercício, cuidados de saúde e estilo de vida que podem estar contribuindo para a condição clínica do cliente. Por conseguinte, orientar a parte básica e encaminhar, quando necessário, para o profissional competente na área (trabalho transdisciplinar).

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